Em estudo publicado nesta segunda-feira, 15, na “Nature Plants”, pesquisadores da Universidade da California e outras instituições dos Estados Unidos revelam que o recrudescimento das secas levará a um declínio significativo do cultivo de cevada – o principal ingrediente da cerveja – e, consequentemente, a uma queda na produção. E o que é ainda pior: as cervejas disponíveis custarão muito mais caro.
Os modelos econômicos usados no trabalho indicam um grande potencial de aumento significativo dos preços, principalmente nos países onde o consumo é grande, como o Brasil. Enfrentar um calorão sem poder tomar uma cerveja bem gelada pode parecer um luxo. Mas pode também ser um problema sério.
“O mundo está diante de muitos impactos das mudanças climáticas que podem, inclusive, ameaçar a sobrevivência; gastar um pouco mais para comprar cerveja pode parecer uma bobagem na comparação”, afirmou o coautor do estudo, Steven Davis, especialista em sistemas terrestres da Universidade da Califórnia, em nota oficial sobre o estudo. “Mas existe, definitivamente, um apelo cultural à cerveja, e não poder tomar uma gelada no fim de mais um dia quente pode ser terrível.”
Ele explicou que o grupo analisou diferentes cenários baseado nos níveis de queima de combustíveis fósseis e emissões de dióxido de carbono (que contribuem para o efeito estufa). No pior caso, regiões do planeta onde a cevada é tradicionalmente plantada – como Canadá, Europa, Austrália e Ásia – vão enfrentar mais períodos de seca e ondas de calor, levando a uma declínio do cultivo que pode variar de 3% a 17%.
“Se os atuais níveis de emissões de CO2 forem mantidos já teremos esse pior cenário”, explicou o coautor Nathan Mueller, também especialista em sistemas terrestres da UCI. “Nosso estudo mostra que até mesmo uma elevação mais modesta das temperaturas médias do planeta fará aumentar as secas e ondas de calor nas regiões de plantio de cevada.”
Apenas 17% da produção mundial de cevada é usada na indústria cervejeira. A maior parte do que é plantado é usado para a alimentação do gado. Segundo os pesquisadores, isso impõem um novo conflito para as próximas décadas: será que os produtores de cevada vão priorizar a fome dos animais ou a sede dos humanos?
Os cientistas estimaram ainda que os preços devem subir mais nos países mais ricos e que amam cerveja, como Bélgica, Canadá, Dinamarca e Polônia. Nos países mais pobres, como o Brasil e a China, o consumo deve cair por conta da alta do preço.
“Nossos estudos mostram que nos eventos climáticos mais severos, o estoque de cerveja deve cair em cerca de 16%”, disse o pesquisador. “No futuro, as condições climáticas e o preço podem fazer com que a cerveja seja um produto fora do alcance para centenas de milhares de pessoas em todo o mundo.”