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Comunidade quilombola vive clima de insegurança causado por conflitos agrários no Maranhão

O Mirante Rural deste domingo (3) mostrou a situação de insegurança em que vivem os moradores da comunidade Jacarezinho, área quilombola localizada em São João do Sóter, cidade a 415 km de São Luís.

Segundo a comunidade, eles se sentem inseguros com a presença de produtores de soja, que estariam invadindo as terras a serem demarcadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Moram 40 famílias quilombolas que tem a agricultura familiar como fonte do sustento. Eles alegam que parte das terras foram vendidas para produtores de soja que já estão limpando as áreas.

“Nós ‘quer’ solução para o problema, porque nós precisamos trabalhar na terra. Nós precisamos do nosso sustento aqui dentro, nós precisamos do coco, da água, que justamente eles entupiram o brejo ali, algumas pessoas estão sofrendo com essas necessidades de água embaixo”, explica Antônio Francisco de Moura, lavrador.

A presença dos produtores gera insegurança nos moradores da comunidade, que já existe há mais de 100 anos. A população alega que esta é a primeira vez que as terras são invadidas. “O dono somos nós que moramos aqui e trabalhamos para sobreviver”, disse um lavrador.

A comunidade ainda sofre pela morte do líder Edivaldo Pereira Rocha. Ele foi morto a tiros em abril, próximo ao ponto de ônibus da comunidade Bom Jesus, que fica entre Caxias e São João do Sóter.

“Ele faz muita falta, é sempre ele que corria atrás de tudo, quando acontecia qualquer coisa, o pessoal queria invadir, ele sempre corria atrás ‘para ajeitar’, deixar todo mundo tranquilo”, disse Vera Lúcia Pereira, irmã de Edivaldo.

O suspeito de atirar em Edivaldo foi preso pela Polícia Militar no início de junho. As investigações apontam que, as causas do crime, tem a ver com os conflitos de terra registrados na região.

A Polícia Civil continua realizando investigações na área para saber se há o envolvimento de outras pessoas no crime. As famílias de Jacarézinho temem que outras pessoas sejam vítimas.

“Muito inseguro. A gente está vendo que tudo o que a gente conseguiu agora, está indo água a baixo. A gente está com muito medo, a gente não sabe o que fazer”, disse uma moradora.

Cerca de 200 comunidades no Maranhão enfrentam conflitos no campo. O estado é o segundo no país com maior número de assassinatos, só perde para Rondônia. Somente no primeiro semestre deste ano, sete líderes de comunidades tradicionais foram assassinados no Maranhão.

Uma decisão judicial proíbe a ocupação da comunidade Jacarézinho por pessoas que não sejam povos quilombolas, até que o território seja regularizado.

O Incra informou que cumpre todas as decisões judiciais. Procurado sobre o assassinato do agricultor Edvaldo Rocha, a Polícia Civil disse que as investigações seguem em segredo de justiça.

 

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