FOLHA DE S.PAULO – À margem da polarização nacional que se consolidou nas duas últimas eleições presidenciais, 52 dos 5.559 prefeitos que tomarão posse em janeiro levarão para suas gestões a marca do improvável. Eles saíram vitoriosos das urnas ancorados por coligações que incluem tanto o PT do presidente Lula quanto o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No Maranhão, Léo Cunha prefeito do PL, foi o único prefeito do Brasil eleito pelo partido que terá uma vice-prefeita filiada ao PT, a Professora Irenilde.
“Tenho o meu posicionamento político, mas sou flexível. Não trago o conflito nacional para o meu município”, resume Leo Cunha, prefeito reeleito de Estreito, cidade de 33 mil habitantes do interior do Maranhão.
Leo Cunha é empresário, agropecuarista e foi deputado estadual pelo Maranhão de 2011 a 2019. No ano seguinte, disputou a Prefeitura de Estreito pelo PL, que na época ainda não era o partido de Bolsonaro, com o apoio dos petistas.
Nas eleições de 2022, promoveu um arranjo heterodoxo ao apoiar Bolsonaro para presidente, Carlos Brandão (PSB) para governador e Flávio Dino, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), para o Senado, também pelo PSB.
Quando as eleições deste ano se aproximaram, Leo Cunha procurou o comando estadual do partido e foi autorizado a manter as alianças com os partidos de esquerda.
“O PT sempre fez parte do meu governo e seguimos unidos em 2024. Por isso não houve estranhamento. Aqui, não é partido que faz o voto, o que faz o voto são as pessoas”, afirma o prefeito reeleito.
Não foi um caso isolado no Maranhão: o estado teve um total de 13 candidatos que foram eleitos apoiados por petistas e bolsonaristas, recorde no país. Dentre eles está Thâmara Castro (PT), prefeita eleita com o PL em sua coligação na cidade de Brejo (a 321 km de São Luís).
Os dois partidos também estiveram juntos na campanha vitoriosa de Dr. Julinho (Podemos) para a Prefeitura de São José de Ribamar, terceira maior cidade do Maranhão com 244 mil habitantes.
O estado protagonizou ainda a única chapa que uniu PT e PL em uma capital, capitaneada pelo deputado federal Duarte Júnior (PSB) em São Luís. Mesmo com amplo arco de alianças, ele acabou sendo derrotado ainda no primeiro turno para o prefeito Eduardo Braide (PSD), reeleito na capital maranhense.
Diante do arranjo político, Bolsonaro e seus filhos anunciaram apoio ao deputado estadual Yglésio Moyses (PRTB), que terminou apenas em terceiro lugar.
O principal arquiteto das alianças é o presidente estadual do PL, o deputado federal Josimar Maranhãozinho. Ele é filiado ao partido desde antes da chegada de Bolsonaro e conseguiu ter autonomia para firmar as parcerias que fossem convenientes ao seu projeto político.
Na eleição deste ano, o PL conquistou 40 prefeituras no Maranhão, sendo o partido que mais venceu no estado. O resultado representa quase metade dos prefeitos eleitos pelo partido em todo o Nordeste.
Josimar Maranhãozinho afirma que manteve as alianças feitas em 2020 nos municípios com o aval do presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto. No caso de candidatos novos, em cidades em que o partido não governava, a orientação foi de não fazer parcerias com a esquerda.
“Não poderia bagunçar a reeleição de um prefeito vetando alianças nos municípios. Perguntei a Valdemar se a gente poderia manter, e ele liberou”, afirmou Josimar em entrevista à Folha.
Mesmo aliado a Bolsonaro nacionalmente, Josimar apoiou em 2022 o senador Weverton Rocha (PDT), apoiador de Lula, para o Governo do Maranhão. Diz ter boa relação com Carlos Brandão, mas seu partido não faz parte da base do governador, se mantendo independente.