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Brasil

Morte de cacique no Maranhão é novo capítulo de invasões na região, segundo indígenas

Junior Castro

Morte de cacique no Maranhão é novo capítulo de invasões na região, segundo indígenas
Protesto contra o genocídio indígena em abril, em Brasília. APIB COMUNICAÇÃO

De acordo com a reportagem desta semana do “EL PAÍS” o cacique Jorginho, como era conhecido, de 56 nos, líder da aldeia Cocalinho I, na Terra Indígena Araribóia,  no sudoeste do Maranhão,  foi assassinado, segundo lideranças indígenas.

As investigações, da Polícia Civil, apontaram que o cacique, morreu afogado no Rio Zutiwa acidentalmente. Seu corpo foi encontrado no dia 11 ao lado de uma ponte que divide os municípios de Buriticupu e Arame.

Já para os moradores locais, eles não acreditam na versão da polícia do Estado, e dizem o cacique Jorginho foi assassinado por “não-indígenas”.

“O Jorginho estava perambulando à noite em um horário em que não podemos andar. Ele saiu para tomar cachaça. Deu bobeira e acabou morto igual a um tatu. Foi caçado”, disse ao EL PAÍS uma liderança local, Vitorino Guajajara.

A região amazônica do Maranhão é alvo de intenso desmatamento e degradação florestal, inclusive dentro de terras indígenas.

O conflito na região é acirrado, a terra indígena cuja área tem quase três vezes o tamanho do município de São Paulo, as invasões são constantes de madeireiros. De acordo com informações, existe uma espécie de toque de recolher na cidade e nenhum índio deve circular em Arame (MA) depois das 22 horas. O cacique Jorginho estava no município depois desse horário.

De acordo com informações obtidas pela nossa redação, caso um índio for visto perambulando após as 22h, os madeireiros se juntam aos caçadores para agredi-los.

Guardiões da Floresta

Tentando reduzir esses conflitos, há quatro anos, diversas comunidades da região amazônica, da qual faz parte a terra Araribóia, criaram um programa chamado Guardiões da Floresta. Divididos em pequenos grupamentos os índios fazem rondas frequentes nos limites das comunidades para identificar se elas estão sendo invadidas. Também para evitar que índios isolados tenham contato com outras aldeias ou com os não-índios. É uma forma dos indignas de se proteger e de informar as autoridades que determinadas regiões precisam ser fiscalizada.  Jorge, o cacique já falecido, era um desses guardiões.

Segundo um morador local, Jorge o cacique, “foi assassinado” devido a sua atuação no Guardiões, segundo ele, é comum, os Guardiões se depararem com invasores. Quando isso acorre registram o local da invasão em seus aparelhos GPS e repassam as informações para as autoridades.

Ainda de acordo com ele, nas cidades do entorno das áreas indígenas, é possível comprar carnes de vários animais silvestres:  veado, tatu, paca, queixada, anta e aves, como o mutum. O mutum é usado nossos rituais no mês de setembro, a festa da menina moça que acontece na aldeia. Segundo ele, de tanto que os caçadores mataram, quase não se encontra mais na região.

De acordo com o cacique da terra Caru, uma área indígena vizinha à Araribóia, Antônio Wilson Pistola Guajajara, segundo ele é comum os índios sofrerem ameaças por conta dessa tentativa de proteger suas comunidades. De acordo com Pistola Guajajara, além de proteger suas terras, os índios querem evitar que indígenas isolados, que jamais tiveram contato com outras comunidades, percam essa condição.

Desconfiança

Sonia Guajajara, em Brasília. APIB COMUNICAÇÃO

Devido as grandes queixas dos amigos e familiares, além da desconfiança da polícia estadual por parte dos mesmo, devem levar a Polícia Federal a investigar o caso.

Na última semana, a PF esteve na cidade de Arame, conversou com alguns índios, obteve parte do inquérito que estava sob o poder dos policiais civis, mas ainda não chegou a uma conclusão sobre o caso.

Para checar se havia algo que era imperceptível à primeira vista, técnicos da PF fizeram a exumação do cadáver. Um laudo deve ser emitido em até 30 dias. Só depois desse prazo é que os federais decidem se assumem ou não exclusivamente a apuração. Para que isso ocorra, é preciso haver indícios claros de que a morte do índio tenha ocorrido pela razão de ele defender a coletividade. Se foi um acidente ou se foi um crime passional, por exemplo, a investigação permanece com a Polícia Civil.

Os indígenas amigos de Jorginho confiam que essa exumação seja capaz de apontar que a primeira perícia foi fraudada.

De acordo com Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o órgão responsável por coordenar a política indigenista brasileira, disse que acompanha as apurações dando todo o suporte que os investigadores e os índios precisam.

Enquanto isso, o cacique Jorginho Guajajara permanece como sendo mais uma morte acidental.