Uma mulher e 16 homens foram resgatados em condições análogas à escravidão de uma carvoaria no Maranhão.
A fazenda na qual eles trabalhavam fica na zona rural de São João do Paraíso, a 761 quilômetros de São Luís.
Nos alojamentos, a fiscalização constatou um “estado precário de conforto e higiene”, inclusive com uma cama sem qualquer condição de uso. Ao menos oito dos resgatados dividiam o mesmo quarto, dormindo em redes.
Além de beberem água sem qualquer processo de filtragem, os trabalhadores precisavam usar um banheiro feito de tábuas no quintal de uma das casas. Os resgatados relataram à fiscalização que preferiam tomar banho em um riacho —que passava ao lado de um dos alojamentos— do que no banheiro, já que a água disponível era barrenta.
Além disso, há três meses os trabalhadores viviam sem energia elétrica, isolados do mundo externo e expostos ao ataque de animais peçonhentos, como cobras. Eles ainda cozinhavam em um fogareiro improvisado com lata de alumínio, já que não tinham acesso a fogão.
De acordo com o MPT (Ministério Público do Trabalho), todos os resgatados receberam o pagamento das verbas rescisórias a que tinham direito, além de férias e 13º salários proporcionais, bem como parcelas de seguro-desemprego. No total, o valor pago foi de R$ 47,7 mil.
A operação revelou que os resgatados exerciam diversas funções na carvoaria, desde forneiro e batedor de tora até a empilhador, operador de motosserra e zelador. No entanto, as jornadas mais exaustivas eram de duas categorias: carbonizador e cozinheira.
A responsável pela cozinha, uma mulher de 55 anos, trabalhava por quase 12 horas diárias. Em depoimento, ela afirmou que começou a trabalhar aos nove anos como cozinheira em uma fazenda, acompanhando o pai dela, que era empregado do local.
Um dos carbonizadores resgatados durante a operação era um homem de 46 anos, natural de Minas Gerais, e analfabeto. Trabalhando desde os 15 anos e morando no Maranhão há dez anos, ele disse aos investigadores que perdeu o vínculo com a família.
A operação
O resgate foi feito em etapas e, inicialmente, foram resgatados oito trabalhadores encontrados na carvoaria. Em seguida, o grupo visitou outros três alojamentos instalados na mesma região e fez o resgate de mais nove pessoas.
O resgate foi feito em uma ação conjunta do MPT (Ministério Público do Trabalho), a Superintendência Regional do Trabalho, PRF (Polícia Rodoviária Federal) e Polícia Federal. A Operação Gênese teve início no último dia 6 de fevereiro e foi concluída hoje.