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Barreirinhas

Produção artesanal de farinha vira roteiro turístico no Maranhão

Junior Castro

Produção artesanal de farinha vira roteiro turístico no Maranhão

Quem visita a cidade de Barreirinhas, a cerca de 260 km de São Luís (MA), tem como principal destino os Lençóis Maranhenses, paisagem conhecida Brasil afora pelas dunas a perder de vista e lagoas com águas cristalinas. Essa é uma das rotas turísticas mais procuradas por aqueles que visitam a cidade. Contudo, existem outros passeios na região que também valem a pena ser feitos.

Um desses passeios é ao povoado Tapuio, localizado às margens do Preguiças, principal rio da cidade. O que há de especial no local são as chamadas casas de forno, também conhecidas como casas de farinha. Lá os visitantes têm a oportunidade de conhecer o processo de produção artesanal da farinha, desde o corte da mandioca até a preparação do produto, que é um dos mais característicos da culinária maranhense. Algumas agências de turismo disponibilizam a visita à localidade, que é uma oportunidade única de ter um contato com o lado mais rural do município.

No que diz respeito à produção de farinha, Barreirinhas tem um destaque especial. Conforme mostram os dados do Censo Agro 2006, realizado pelo IBGE, o município produziu 18.182 toneladas de farinha, ficando em segundo lugar no ranking das cidades maranhenses maiores produtoras, perdendo apenas para Turiaçu, que foi responsável pela produção de 40.060 toneladas da farinha. No país, a cidade ocupava a décima posição entre os maiores produtores.

Rio Preguiças

A melhor forma para chegar até a localidade é por barco ou lancha. O ponto de partida é às margens da Avenida Beira Rio, uma das principais e mais movimentadas vias de Barreirinhas, e onde existe um pequeno cais, Porto do Janjão, no qual as embarcações ficam atracadas. O passeio pelas águas do rio Preguiças, do ponto de partida até Tapuio, se estende por cerca de 30 minutos. Durante esse tempo, os turistas têm a oportunidade de conferir uma paisagem única formada por igarapés e vegetação nativa, com grande riqueza de fauna e flora. E aproveitar um passeio relaxante sobre as águas limpas e mansas que correm preguiçosamente ao longo de 120 km até desaguar no oceano Atlântico, no povoado Atins.

Ao longo do trajeto pelo rio até Tapuio, o tráfego de embarcações é intenso, não apenas com turistas mas também com moradores que utilizam os barcos para o transporte dos povoados mais afastados até o centro da cidade. Durante o passeio, pode-se observar que o rio serve como um divisor entre duas realidades distintas. Ao longo de um determinado trecho, em uma das margens do rio, é possível observar luxuosos restaurantes, hotéis e casas para aluguel de temporada. Já na outra margem, a vida segue em um ritmo mais lento, com crianças tomando banho na água e adultos trabalhando em redes de pesca ou no conserto de embarcações.

Começam a surgir, a partir de então, os primeiros povoados banhados pelo rio, até chegarem outros mais afastados e também mais visitados da região como Vassouras, Mandacaru, Caburé e Atins. O cenário na região completa-se com vasta quantidade de palmeiras de variadas espécies, árvores com grandes raízes e uma vegetação fechada em diversos pontos às margens do Preguiças.

Processo de produção

Chegando ao povoado, o ponto onde as embarcações costumam atracar situa-se a poucos metros de uma das casas de forno da região. No local, a predominância de equipamentos rústicos no processo de produção artesanal da farinha chama a atenção dos turistas que visitam o espaço.

Após a colheita da mandioca, o produto é descascado e lavado para que posteriormente seja ralado. Em seguida, a massa que é formada segue para uma prensa em que é comprimida e de onde é extraído todo o líquido. Na próxima etapa, é realizado o processo de peneiração para a retirada de impurezas, o que já contribui para deixar a farinha mais homogênea. Feito isso, o produto é colocado em um forno, que é similar a uma grande chapa, e mexido constantemente até ficar bem torrado. Depois dessa fase, a farinha já está pronta para o consumo e comercialização.

Cleudo Ramos Sousa, de 42 anos de idade, trabalha na casa de forno com a produção da farinha. Morador do povoado Laranjeiras desde os 12 anos de idade, ele atua nessa atividade e também na pesca, de onde tira os recursos para a sua subsistência e da família. Seu depoimento mostra que a produção artesanal da farinha é uma atividade que passa de geração a geração. “Foram os meus pais que me ensinaram e agora eu vivo disso aqui”, contou o morador.

Cultivo da mandioca

A produção da farinha em Barreirinhas atende ao grande cultivo de mandioca na região. De acordo com a Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), do IBGE, a cidade é a que mais produziu mandioca no Maranhão, em 2016, com uma produção de 46.500 toneladas, e oitava maior produtora no Nordeste.

O Maranhão está bem colocado no que diz respeito ao cultivo da mandioca. Os dados da PAM mostram, ainda, que o estado foi o segundo maior produtor de mandioca do Nordeste, com uma produção de 1.305.850 toneladas, perdendo apenas para a Bahia, que produziu 1.956.103 toneladas. Em todo o país, o Maranhão ocupa a quarta posição entre os maiores produtores, perdendo para o Pará (4.263.013 toneladas), Paraná (3.888.111 toneladas) e Bahia (1.956.103 toneladas).

Item indispensável na dieta de muitos maranhenses, a farinha de mandioca é rica em carboidratos. Como parte integrante da culinária regional, o produto em sua forma pura é consumido com juçara, no café ou com o pirão, por exemplo. Além disso, a farofa, seja ela proveniente da farinha seca ou d’água, pode ser consumida no acompanhamento de diversos outros pratos. A culinária maranhense é a prova da variedade em que a farinha pode ser empregada.